Páginas

Bétito um criativo com arte e engenho

Nas manifestações da vila como cortejos e desfiles, o povo procura logo visualizar uma figura incontornável. O Bétito que já interpretou papéis distintos com um realismo convincente. Começa a ser um caso de sucesso. São encenações de um ator amador que combinam a criatividade com a seriedade de um trabalho ao nível dos profissionais.
Há pessoas que nascem com dons. Quando os descobrem e os partilham dificilmente deixam os outros indiferentes. Vem isto a propósito de um criativo com arte e engenho que não pára de surpreender com as figuras que prepara meticulosamente e encena como se tratasse de um “ator profissional”, tal é a veracidade do papel que representa. Ora com ar de carteiro ou de graduado da GNR à antiga, mendigo, ou ainda, como foi o caso do cortejo alegórico da última Festa da Senhora das Dores, com o surpreendente papel de “Papa Beto” que se deslocou no Papamóvel ladeado de “seguranças” com cara de poucos amigos.
O mendigo
Pensámos que já adivinharam de quem falamos. É claro que estamos a referir-nos a Alberto Rodrigues, mais conhecido por Bétito.
Na verdade, a reputação que o Bétito granjeou com a encenação de figuras que revelam muito trabalho de autenticidade, já o procede e conquistou a expetativa dos seus “seguidores”, que sempre que há manifestações públicas, como cortejos alegóricos ou desfiles carnavalescos, procuram-no avidamente para saberem o que a sua imaginação e criatividade preparou para a ocasião, não deixando até hoje defraudada a curiosidade a expetativa dos seus “fãs”.
De carteiro a Papa
Bétito na atualidade é um empresário da área automóvel que tem uma oficina sediada na vila, figura conhecida pelo trato que dispensa aos outros, desde sempre foi mostrando apetência para a competição automóvel, em tempos praticou hóquei em patins, na atualidade pratica BTT, gosta de andar e é dirigente associativo entre outras facetas deste paulense, mas esta versatilidade e o gosto por criar figuras distintas só em 2013 começou a despontar, quando no cortejo alegórico da Festa da Senhora das Dores, apareceu a interpretar um carteiro de outros tempos, com um quadro absolutamente delicioso e genuíno, onde não faltavam as cartas para distribuir, nem os comentários destes distribuidores das boas e más novas, começava porventura a revelar-se aqui uma apetência natural para a arte cénica.
O Papa "Beto" e o seu Papamovel
No ano seguinte também no cortejo alegórico da festa anual da vila, lá apareceu ele vestido a rigor com uma das fardas mais antigas da GNR, assumindo o papel de 1º Sargento montado numa bicicleta e “fartou-se“ de apitar para orientar o movimento dos carros e das pessoas que iam no cortejo, sempre com um “ ar profissional”, provocando a gargalhada geral que não foi capaz de o “ desmontar” de mais uma encenação digna de atores profissionais.
Mas já este ano no Desfile Carnavalesco da vila, a autenticidade do mendigo que representou foi soberba, não faltando nada, desde do olhar pedindo compaixão, por vezes perdido no horizonte, dos tarecos que tinha no chão onde estava sentado (mudando de poiso várias vezes) até ao cão de pequeno porte que lhe fazia companhia. Cinco estrelas para esta encenação é o mínimo que ela mereceu.
Faltava neste naipe de encenações uma arrojada, pitoresca e bem cuidada. Aconteceu no cortejo na última Festa da Senhora das Dores, quando de forma inesperada apareceu no seu “Papamóvel” o “Papa Beto”.
O jipe foi adaptado para a circunstância, transformando-se na viatura caricaturada lembrando a genuína que habitualmente transporta os Papas junto das multidões, os seguranças, de fato e óculos escuros ladeavam o “ Papamóvel “ de ocasião, o “Papa Beto”
O GNR
vestido a rigor e empunhando o bastão “papal” distribuía “bênçãos” a torto e a direito, dava o “anel” a beijar e tinha sempre um sorriso de “bondade” para a multidão, era a figura que logo a abrir o cortejo deste ano não deixava ninguém indiferente, todos queriam ouvir uma palavra do “Papa Beto”, ver um aceno sempre dado com convicção e devidamente teatralizado, confirmando-se assim este dom que o Bétito revela para encarnar com realismo as figuras que escolhe representar.
As pessoas pedem mais
Parco em palavras ainda assim, abordámos o Bétito, para tentar perceber como este verdadeiro artista, prepara estas aparições públicas encarnando múltiplas figuras, “quando fiz a primeira figura de carteiro a ideia surgiu quando estava a reparar uma bicicleta pasteleira, porque sabia que os carteiros antigamente distribuíam a correspondência nestes velocípedes, depois foi só arranjar a indumentária própria. Das outras vezes as ideias siaram assim mais ou menos de forma espontânea. Uma que deu muito trabalho foi a do mendigo, até o cão teve de ser treinado para ficar com a lata de esmolas ao pescoço. Acabei por recolher uma pequena quantia que foi entregue à organização do desfile carnavalesco.
Nesta última aparição com a figura do Papa, a ideia surgiu um dia a olhar para o meu
O carteiro
Jipe UMM que é igual ao Papamóvel que transportou o Papa em Portugal, depois foi só adaptá-lo e arranjar a indumentária própria. A verdade é que as pessoas gostaram desta teatralização. Quando estou a representar estas figuras estou a fazê-lo como se as vivesse por dentro, não sei explicar esta sensação que sinto, o problema com esta brincadeira é que agora as pessoas começam logo a preguntar qual é a próxima encenação mas o segredo é a alma do negócio, na altura própria logo se vê”, esclareceu com um sorriso malicioso este paulense,  
Seja como for, as performances deste “ator amador” fazem já parte de um imaginário coletivo e assumem já a condição de indispensáveis para a comunidade paulense, sempre expetante quanto à figura seguinte que o Bétito vai apresentar para deleite dos seus seguidores. E já são muitos.