Nas manifestações da vila como
cortejos e desfiles, o povo procura logo visualizar uma figura incontornável. O
Bétito que já interpretou papéis distintos com um realismo convincente. Começa
a ser um caso de sucesso. São encenações de um ator amador que combinam a
criatividade com a seriedade de um trabalho ao nível dos profissionais.
Há
pessoas que nascem com dons. Quando os descobrem e os partilham dificilmente
deixam os outros indiferentes. Vem isto a propósito de um criativo com arte e
engenho que não pára de surpreender com as figuras que prepara meticulosamente
e encena como se tratasse de um “ator profissional”, tal é a veracidade do
papel que representa. Ora
com ar de carteiro ou de graduado da GNR à antiga, mendigo, ou ainda, como foi
o caso do cortejo alegórico da última Festa da Senhora das Dores, com o
surpreendente papel de “Papa Beto” que se deslocou no Papamóvel ladeado de
“seguranças” com cara de poucos amigos.
O mendigo |
Na
verdade, a reputação que o Bétito granjeou com a encenação de figuras que
revelam muito trabalho de autenticidade, já o procede e conquistou a expetativa
dos seus “seguidores”, que sempre que há manifestações públicas, como cortejos
alegóricos ou desfiles carnavalescos, procuram-no avidamente para saberem o que
a sua imaginação e criatividade preparou para a ocasião, não deixando até hoje
defraudada a curiosidade a expetativa dos seus “fãs”.
De carteiro a
Papa
Bétito
na atualidade é um empresário da área automóvel que tem uma oficina sediada na
vila, figura conhecida pelo trato que dispensa aos outros, desde sempre foi mostrando
apetência para a competição automóvel, em tempos praticou hóquei em patins, na
atualidade pratica BTT, gosta de andar e é dirigente associativo entre outras
facetas deste paulense, mas esta versatilidade e o gosto por criar figuras
distintas só em 2013 começou a despontar, quando no cortejo alegórico da Festa
da Senhora das Dores, apareceu a interpretar um carteiro de outros tempos, com
um quadro absolutamente delicioso e genuíno, onde não faltavam as cartas para
distribuir, nem os comentários destes distribuidores das boas e más novas,
começava porventura a revelar-se aqui uma apetência natural para a arte cénica.
O Papa "Beto" e o seu Papamovel |
No
ano seguinte também no cortejo alegórico da festa anual da vila, lá apareceu
ele vestido a rigor com uma das fardas mais antigas da GNR, assumindo o papel
de 1º Sargento montado numa bicicleta e “fartou-se“ de apitar para orientar o
movimento dos carros e das pessoas que iam no cortejo, sempre com um “ ar
profissional”, provocando a gargalhada geral que não foi capaz de o “ desmontar”
de mais uma encenação digna de atores profissionais.
Mas
já este ano no Desfile Carnavalesco da vila, a autenticidade do mendigo que
representou foi soberba, não faltando nada, desde do olhar pedindo compaixão,
por vezes perdido no horizonte, dos tarecos que tinha no chão onde estava
sentado (mudando de poiso várias vezes) até ao cão de pequeno porte que lhe
fazia companhia. Cinco estrelas para esta encenação é o mínimo que ela mereceu.
Faltava
neste naipe de encenações uma arrojada, pitoresca e bem cuidada. Aconteceu no
cortejo na última Festa da Senhora das Dores, quando de forma inesperada
apareceu no seu “Papamóvel” o “Papa Beto”.
O
jipe foi adaptado para a circunstância, transformando-se na viatura
caricaturada lembrando a genuína que habitualmente transporta os Papas junto
das multidões, os seguranças, de fato e óculos escuros ladeavam o “ Papamóvel “
de ocasião, o “Papa Beto”
vestido a rigor e empunhando o bastão “papal”
distribuía “bênçãos” a torto e a direito, dava o “anel” a beijar e tinha
sempre um sorriso de “bondade” para a multidão, era a figura que logo a abrir
o cortejo deste ano não deixava ninguém indiferente, todos queriam ouvir uma
palavra do “Papa Beto”, ver um aceno sempre dado com convicção e devidamente
teatralizado, confirmando-se assim este dom que o Bétito revela para encarnar
com realismo as figuras que escolhe representar.
O GNR |
As pessoas pedem
mais
Parco
em palavras ainda assim, abordámos o Bétito, para tentar perceber como este
verdadeiro artista, prepara estas aparições públicas encarnando múltiplas
figuras, “quando fiz a primeira figura de carteiro a ideia surgiu quando estava
a reparar uma bicicleta pasteleira, porque sabia que os carteiros antigamente
distribuíam a correspondência nestes velocípedes, depois foi só arranjar a
indumentária própria. Das outras vezes as ideias siaram assim mais ou menos de
forma espontânea. Uma que deu muito trabalho foi a do mendigo, até o cão teve
de ser treinado para ficar com a lata de esmolas ao pescoço. Acabei por
recolher uma pequena quantia que foi entregue à organização do desfile
carnavalesco.
Nesta
última aparição com a figura do Papa, a ideia surgiu um dia a olhar para o meu
Jipe UMM que é igual ao Papamóvel que transportou o Papa em Portugal, depois
foi só adaptá-lo e arranjar a indumentária própria. A verdade é que as pessoas gostaram
desta teatralização. Quando estou a representar estas figuras estou a fazê-lo
como se as vivesse por dentro, não sei explicar esta sensação que sinto, o
problema com esta brincadeira é que agora as pessoas começam logo a preguntar qual é a próxima encenação mas o
segredo é a alma do negócio, na altura própria logo se vê”, esclareceu com um
sorriso malicioso este paulense, Seja
como for, as performances deste “ator amador” fazem já parte de um imaginário
coletivo e assumem já a condição de indispensáveis para a comunidade paulense,
sempre expetante quanto à figura seguinte que o Bétito vai apresentar para
deleite dos seus seguidores. E já são muitos.
O carteiro |